a crise está em mim. a crise sou eu.










Saturday, October 30, 2010

dois zero dois

nunca fui de peregrinações e pouco me dediquei a penitências. o devaneio e a precipitação também raramente incitaram as minhas atitudes. nem os subúrbios me atraem especialmente e as noites de chuva tão-pouco fazem parte de um plano de treinos físicos que não tenho.

estou de olhos fechados, no autocarro. oiço as portas abrirem e saio sem ver qual é a paragem. quatro e meia da manhã. a cidade inteira molhada. estou um bocado perdido. há uma rotunda em frente. há a minha casa que não sei onde fica. viro à direita, tenho a sensação que o autocarro foi-se embora pela direita. meto as mãos nos bolsos e começo a andar. as ruas não me dizem nada. não são os caminhos nem os edifícios nem as árvores que me dizem alguma coisa. tenho a única referência mental da lógica do território, da sucessão das localidades, e o diagrama, ou pedaços do diagrama do trajecto na cabeça. Príncipe Real. Campolide. Sete Rios. Carnide. Pontinha. Benfica. Damaia. depois corto na Buraca e estou perto. vai amanhecer. chego a casa. e continuo completamente perdido.

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